SOB O SIGNO DA DEPENDÊNCIA
O BRADO
PERDIDO
Aileda de Mattos Oliveira*
O Brasil, só em
raras ocasiões, foi tratado com dignidade e respeito. Sua gente e os que
compõem a confraria do poder são estranhos migrantes na terra que lhes serviu
de berço, razão pela qual as suas instituições não terem sido fincadas no solo
profundo do nacionalismo, apesar de políticos e estadistas de renomados valores
ético e moral despontarem em momentos de crise política, em várias fases de sua
evolução como nação. Foram exceções. Hoje, a norma é criminalizar aqueles que
defendem o Estado da imposição das ideias que norteiam os antibrasileiros.
Sabem os
governantes que grande parte da sociedade satisfaz-se com o arcabouço
demagógico, superficial, vazio, de seus programas que não visam ao bem do
Estado, mas à manutenção de um partido no supremo assento. Eles próprios,
iconoclastas, negam à sociedade a escola do civismo e estimulam-na a manter-se
na alienação das questões nacionais. Isto vem de longe. Desde os primeiros
tempos. Não significa, porém, que tenha de permanecer destinada ao
embrutecimento intelectual, pelos séculos afora. O melhor arbítrio é a reação
legal às atitudes dolosas dos que se locupletam no poder e desejam a
vitaliciedade do poder.
Há, portanto,
forte argumento para que o brado do monarca não tenha propagado com a força da
reflexão esperada, por ter atingido um alvo sem espírito de luta, já prostrado
aos pés do Estado, insensível, portanto, a qualquer mobilização: o povo.
O grito de
“Independência!” desvaneceu-se no tempo. O brandir da espada cristalizou-se na
beleza de uma estátua equestre. Não mais que isso. Hoje, nem a estátua é
reconhecida por muitos nem o nome do autor do brado é sabido pelos ‘estudantes’
das fábricas assistencialistas de notas e certificados.
A simbologia do
gesto, os nossos antepassados, prisioneiros desde então de sua própria incúria,
não quiseram ou não souberam interpretar. Não seguiram, pelo tempo afora, a mão
que empunhara o aço, característico ato de defesa e de ataque, signo
representativo da dissuasão, também ignorado, contemporaneamente, pelos sucessivos
ministros do órgão responsável pela integridade do país, por absoluta
incompetência e inaptidão para o cargo.
Não viveram o
marco histórico as testemunhas do fato. Não participaram; presenciaram,
aplaudiram, apenas. Sentiram o instante, epidermicamente. Emoções de momento,
não sentimentos entranhados. Começaram mal os brasileiros a construção de sua
História.
Ao jovem de duas
pátrias cabia decidir de que lado do Atlântico permaneceria. Acompanhado de
fiéis companheiros, a Colônia foi a sua opção, dando uma lição política e de
lealdade (ainda não aprendida) aos brasileiros, naturalmente, já naquela época,
preocupados com os folguedos do próximo entrudo.
Triste sina a
desse povo que sobrevive das ações de terceiros; nunca das suas próprias. Por
vias de uma atitude magnânima, livra-se da matriz europeia, no desprezo que dá
o imperador às cores portuguesas. Mas, sem vontade própria, mantém-se
psicologicamente dependente de outras cores, representativas dos modelos
estrangeiros de viver, de pensar, de agir. Pondo-se em nível secundário racial e
de progresso, e comportando-se como ser de segunda classe, adotou a xenofilia
como a doutrina do bem-viver, medíocre viver de imitações e cópias, porque se
autocondenou a ser ínfero, sub e rés.
Independência é
um sentimento natural às pessoas com fortaleza de ânimo, portanto, não cabe no
peito de qualquer um que por estas bandas foi destinado a nascer, por já trazer
o estigma de albergado do Estado ou destinado a mimetizar, a reproduzir o
estilo de vida e o de pensar, acorrentado, por acomodação, à dependência
intelectual de outras culturas.
Reduz-se, assim,
a arauto das maravilhas de democracias encantadas ou de ‘democracias’
escravocratas, sem ânimo de construir a sua própria, fundamentada nos valores
que, por modismo e infiltração ideológica, passou a desprezar. Como vemos, há
tipos variados de dependência: a da sujeição aos governantes insidiosos e a da
vassalagem cultural; seja qual for o credo ideológico.
A independência
de um país não se basta nas assinaturas de acordos diplomáticos; nem nas
batalhas de libertação. Consolida-se com atitudes e compromissos conscientes
dos que verdadeiramente querem vê-lo livre de injunções externas. Ontem, hoje,
sempre.
Reconhece-se
que, por razões atávicas, representações da sociedade, em qualquer área
profissional, omitem-se na defesa das características de sua própria terra, em
defesa da soberania do Estado Brasileiro, porém, sempre com radiante entusiasmo
em favor de instituições de outras nações, por suporem, pelo hábito de
menosprezarem as coisas nacionais, serem as de fora, exemplares.
Nesses momentos,
expressam o mais agudo gemido de dor, de insatisfação: uns, por não estarem sob
a jurisdição da tracejada bandeira; outros por não trazerem a bandeira dos
irmãos Fidelitos para as plagas de cá. As comparações são, sem exceção, do mais
alto quilate, favorecendo, é claro, ou aos paradigmas estrelados do outro lado
do Caribe ou ao próprio ‘paraíso’ caribenho, dependendo das cores pelas quais
foram seduzidos tais aficionados.
No seu íntimo,
almejam fossem os brasileiros (latinos, traços mediterrâneos, miscigenados,
católicos), análogos aos oriundos dos anglos (quakers, puritanos, protestantes), mesmo que muitos pioneiros,
especuladores de terra, tenham dizimado a população indígena. “Ora, era preciso
colonizar o oeste”, dirão, certamente, os simpatizantes da História importada.
Outros preferem implantar, entre nós, a ‘filosofia humanística’ dos
revolucionários irmãos. Alguns entusiastas destes últimos, cortesãos residentes
em França e assíduos degustadores da mais fina culinária e vinícola
parisienses, dizem-se antiburgueses e anticapitalistas, sendo burgueses e
capitalistas. Todos rastaqueras, todos frustrados.
Enquanto isso, a
Amazônia continua sem povoamento brasileiro. Impedidos estão os índios de se
aculturarem, sem matança, sem extermínio, por não se exigir o primado da lei de
defesa da soberania do país sobre todas as outras leis, consolidando a
independência conquistada pela audácia de um inflamado português.
Preferem os
bardos dos paraísos sublimados, justificar os erros alheios e condenar, por
extremo complexo de inferioridade, os acertos brasileiros.
Chega-se à
primeira conclusão (outras virão), de que mais vale um General Custer derrotado,
do que um Marechal Rondon vitorioso. Há uma resposta para tão ingrata e servil
antítese: o primeiro se expressava no universal inglês; o segundo, no
subdesenvolvido e regional português e, para horror dos hipócritas defensores
das “minorias”, filho de índia.
Quanto aos
simpatizantes da horda vermelha, dizem que as Forças Armadas Brasileiras só
promovem a oficial-general os que são brancos. Brancos? Mas não somos
miscigenados, “caras pálidas”?
Isto só pode ter
sido um sopro ao ouvido do jornalista que pensa dizer o que pensa, mas somente
pensa no que lhe mandam pensar, ou melhor, nas cotas, como bom socialista,
certamente, desfrutador de Miami.
(*Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa)
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