Ética profissional e os serviços essenciais
O Brasil chegou a um patamar repugnante de exacerbação do
egoísmo corporativo.
Talvez sob a lógica de intelectuais universais que acreditam
em ideologias e em teses a serem defendidas sem maior objetividade, como explica
Michel Foucault em seus últimos livros (muitos livros escritos por ouvintes
dessas aulas que devem ter sido fantásticas, como resultado de seus discursos),
vejamos um pragmatismo doentio contaminando tudo o que acontece em nossa pátria.
Ele valorizava ações objetivas e conscientes da realidade existente (na análise
colocada genialmente em seu livro (Arqueologia do Saber) ), a partir dos quais
define o “intelectual especialista”, ou
seja, o que é mais objetivo e faz acontecer. Aliás, Hannah Arendt teria chegado
lá para nós se tivesse vivido um ano mais. Lamentavelmente morreu antes de
escrever meticulosamente sobre o “homem de ação”.
Numa visão parresiasta (vide (Foucault - a coragem da verdade, 2003) ) não podemos
esquecer (Nietzsche) e maravilhosamente o
que ele romanceia em um de seus livros, entre os quais “Assim falou Zaratustra”
[ (Wikipédia) ,
(Nietzsche
F. ) ,
(Nietzsche,
a construção do Zaratustra) , (Nietzsche
- Human, All Too Human (Full BBC Documentary)) ].
Tudo poderia ser resumido no livro (O Senhor
das Moscas - "Lord of Flies") se o tema a ser
analisado for o comportamento de nossas corporações.
Precisamos, talvez seja impossível, educar e aprender muito
sobre ética e moral para pretender o que sonhamos. Quais são os limites?
A polêmica em torno do (Programa
Mais Médicos)
é extremamente didática e pode rapidamente gerar uma compreensão do que queremos
dizer.
As greves e o péssimo serviço de concessionárias federais
(principalmente) assim como a leniência e omissão de sindicatos e associações
fazendo de conta de que nada sabiam até a Polícia Federal revelar inquéritos é
outra evidência do Estado doente, mal educado, viciado em benefícios sem risco
ou crentes da impunidade.
Com certeza muito da fragilidade de nossas instituições está
na falta de transparência técnica, além da administrativa.
A fragilidade técnica tem muitas causas, entre elas a
colocação de pessoas absolutamente despreparadas para os cargos que ocupam. É fácil
de ver isso nas cidades, principalmente em metrópoles como é o caso de
Curitiba, cheia de escaninhos teoricamente existentes para o aprimoramento da administração
técnica, na realidade, talvez, para colocar companheiros e indicados por
partidos da base que elegeu o prefeito.
Ungidos entre os tangidos pelos poderosos assumem cargos
para os quais não estavam preparados nem dispostos a realizar um bom trabalho a
favor do povo em geral.
E o ser humano?
É interessante sentir o fervor patriótico em cerimônias em que
pessoas crentes de bons princípios acham, depois, extremamente natural cooperar com os “acordos
políticos impublicáveis”. Honestidade é isso? Companheirismo significa
renunciar a qualquer orientação pública e justa?
Na Copel vemos uma preocupação para que os diretores sejam
escolhidos entre funcionários de carreira da empresa. É um bom critério?
Qualquer corporação de grande porte contém pessoas de
inúmeros padrões éticos e morais. Seria suficiente pertencer à corporação para
merecer cargos de relevância?
Os políticos devem sentir o peso de compromissos de campanha
quando se veem limitados a esse ponto nas suas nomeações. Além dos compromissos
partidários, querem que aceitem tacitamente gente da “casa”, e o perfil ético?
A ênfase deve ser a qualidade moral e competência técnica, o
que pode significar a escolha de pessoas externas à corporação (de qualquer
espécie).
Durante a luta pela Copel vimos e passamos por situações
inusitadas. Com a omissão de especialistas e lideranças de toda sorte (internas
e externas à empresa) quase que a empresa foi doada ao Itaú (Ação Popular ) e depois, quando o governador anunciou
a privatização [ (Anúncio da
proposta de venda da COPEL ) , (Início da
luta contra a privatização - releases) ] teve início uma
série de episódios que mostraram como se revertem as ideologias, vontades etc.,
bastou anunciarem a distribuição de migalhas entre os funcionários...
O que pretendemos afirmar é que acima de tudo é essencial
uma postura ética em relação ao povo, quem realmente paga salários e outros
custos das concessionárias, algo que o neoliberalismo procura atenuar, afinal
investidores querem autômatos descartáveis.
Precisamos até por força de leis municipais, estaduais e
federais criar códigos de ética severos; utopia? Provavelmente, chegamos a um
nível moral muito baixo seguindo a (Lei de
Gérson) .
O que fazer para recuperar a dignidade?
Nossas lideranças bem intencionadas, dentro e fora de
partidos políticos, instituições, concessionárias, universidades etc. deveriam
debater exaustivamente o tema: “o que fazer para recuperar o prazer e a honra de
ser brasileiro” e ter como diretriz a pertinência e coerência a favor do bom
governo.
Cascaes
4.10.2013
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